Em política, a comunhão de ódios é quase sempre a base das amizades.
(Charles Tocqueville)
Analisar o comportamento dos eleitores brasileiros é algo extremamente complexo e por isso creio que nem mesmo os maiores estudiosos comportamentais, cientistas sociais ou políticos, sociólogos, historiadores, geógrafos, dentre outros conseguem analisar precisamente o que ocorre no Brasil quando a questão é o comportamento dos eleitores brasileiros. Mesmo porque, constantemente nós criticamos os políticos e falamos mal deles o tempo todo, mas os elegemos e reelegemos quantas vezes eles se candidatarem.
Falar mal dos políticos, todos sabem que esta é uma prática muito comum do povo brasileiro e ocorre em diversos lugares: nas filas dos bancos, nos estádios, nas partidas de futebol entre amigos, nas empresas, nas escolas, nas universidades… E isto se repete constantemente porque: somos humilhados nas filas dos hospitais, temos as maiores taxas de impostos pagas pelos empresários brasileiros, os juros dos cartões de credito são exorbitantes, a taxa de desemprego é elevadíssima, a educação é de baixa qualidade, não temos saneamento básico adequado, não temos segurança publica que precisamos, a corrupção é endêmica em todos os poderes, os políticos não visam em hipótese alguma o bem do cidadão, não se preocupam em fazer o dever de casa para que o país, os estados, e os munícipios possam crescer e desenvolverem como algo que faz parte de um processo natural de qualquer nação séria, pois não se preocupam de maneira nenhuma com a população brasileira, mas mesmo assim nós os elegemos quantas vezes eles se candidatarem a qualquer cargo eletivo que eles desejarem e ainda na maioria das vezes defendemo-los com uma paixão incontrolável ao ponto de nos tornarmos inimigos de qualquer um que tenha um posicionamento diferente do nosso.
No entanto, por este tipo de comportamento dos eleitores brasileiros creio que uma das melhores analogias que podemos utilizar é o da Síndrome de Estocolmo, onde a pessoa que é sequestrada se apaixona perdidamente pelo seu sequestrador. Algo semelhante ao que aconteceu em 1973 em Estocolmo, capital da Suécia, quando uma assaltante e um presidiário mantiveram um grupo de pessoas cativas por seis dias e a partir dali desenvolverem uma forte relação patológica.
Mas porque esta é uma patologia adquirida, por mais que a pessoa sequestrada esteja envolto em privações, humilhações e com sua vida em risco, mesmo que receba as informações, orientações e ensinamentos que aquela pessoa por quem foi sequestrada é um: criminoso, bandido, mal caráter, embusteiro e lhe deseja o mal, infelizmente se a relação afetiva e de cumplicidade já foi criada e se cristalizou no seu intimo, a pessoa talvez não conseguirá se libertar sozinha.
A partir desta realidade da política brasileira,tenho a nítida impressão que os políticos no Brasil conhecem e entendem muito bem sobre o comportamento das pessoas que já adquiriram a Síndrome de Estocolmo, por isso podemos seguramente afirmar que os eleitores brasileiros sofrem desta patologia, que foi cunhada pelo criminologista Nils Berejot.
Para percebermos se isto tem ou não veracidade, basta vermos as pesquisas de intenções de voto dos nossos presidenciáveis e governadoriáveis que estão a frente com reais condições de serem eleitos no Brasil e ainda podemos observar se não são sempre os mesmos que se reelegem como senadores, deputados, prefeitos e vereadores no Brasil. Ou seja, a reeleição é sempre muito fácil por aqui para nossos políticos.
A despeito de nossos políticos estarem envolvidos em escândalos, respondendo processos, serem investigados e até condenados por roubo nós votamos neles. Inclusive no Brasil é muito comum políticos tomarem posse ou administrarem uma cidade de dentro de um presidio. Mesmo assim nós os defendemos como se fossem homens e mulheres probos e que estão sendo injustiçados.
Mas podemos assegurar que todos nós temos a plena consciência que a maioria dos homens e das mulheres que estão no poder atualmente não tem nenhum objetivo de cuidarem daquilo que é o real interesse da população. No entanto, o lamentável é que não queremos sair das mãos destes “sequestradores” que apenas querem se beneficiar do poder que concedemos a eles. É bem verdade que temos honrosas exceções e por isso devemos valoriza-las e votar nestes que são nobres políticos que realmente defendem as causas do povo.
Mas infelizmente diante de um quadro como este em que os “reféns” tentam se identificar com os “sequestradores” por causa da sintonia emocional e comportamental que foi contraída é quase impossível superar este quadro clinico tão aviltante e caótico.
Mesmo porque, um dos princípios da defesa de quem esta refém, vitima ou se considera inferior é ter atitudes de submissão e gentileza por causa do medo de retaliação. Mas a despeito deste dramático quadro clinico social, nós eleitores brasileiros precisamos reagir, denunciar os desmandos, as injustiças e escolher melhor os nossos representantes políticos e lideres da nação.
Não temos o direito de aceitar passivamente esta patologia comportamental e social como se fosse algo irreversível e que não tenha mais cura. Mas, para isto a corrupção precisa ser combatida por todos nós, devemos exigir os serviços públicos de boa qualidade, devemos denunciar a compra de votos ou qualquer tipo de comportamento que macule o processo democrático e assim, jamais permitir a perpetuação de grupos no poder que não queiram trabalhar em beneficio dos que mais necessitam no país. Não podemos permitir que homens e mulheres com má fé cheguem ao poder, mas se chegarem devemos tirá-los e não reelegê-los.
Devemos exigir politicas publicas de qualidade que atendam realmente aos interesses dos eleitores, da maioria da população e nunca nos intimidar com o “poder” que eles pensam que possuem; porque quem os elegem somos nós cidadãos que é o povo brasileiro. Por isso, se eles agirem de maneira corrupta não podemos mais votar neles e muito menos defendê-los como vem ocorrendo no Brasil, onde parece que os mesmos são vitimas e não responsáveis pelos crimes e problemas que atualmente enfrentamos em nosso país e no futuro ainda continuaremos com os mesmos problemas se realmente não reavaliarmos a nossa postura como eleitores.
Podemos assegurar que a máxima é a seguinte: A cura para a ”Síndrome de Estocolmo” do povo brasileiro somente será possível se deixarmos de ser analfabetos políticos e sermos protagonistas de nossa própria historia, se abandonarmos o discurso de vitima, e realmente sermos os agentes de transformação desta nação. Precisamos fazer as escolhas certas e assim ficarmos livres destes “sequestradores” da voz, da dignidade, da honra, dos serviços públicos de qualidade, ou seja, eles sequestram todos os direitos do povo brasileiro.
Nossa mente não pode mais ficar inerte: na aparência, nos pequenos gestos de “bondades” deles, nas falsas promessas e nem no falso poder que os nossos opressores exibem cotidianamente para nos intimidar e fragilizar. Pois o poder emana do povo e deve ser exercido sempre para beneficiar o povo.
Vale a pena refletir!
(Professor Eloiso Matos, presidente da Aciat, Adhonep de Trindade, PHS, professor universitário e membro da Atleca. Ex-diretor do Campus da UEG/Trindade, ex-Bombeiro Militar, ex-conselheiro Estadual de Educação, ex-conselheiro Tutelar da Criança e do Adolescente… prof.eloisomatos@yahoo.com.br)
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